DEPOIS DE TANTO, TANTO AMOR FALADO 

Depois de tanto, tanto amor falado,
Depois de tantos, tantos anos escrito,
Depois de tantos, tantos dias dito,
Vem a hora do seu pobre estado.

E não sois vós, nem eu o culpado,
Deste amor entre nós falhado, maldito,
De não nos amarmos uns aos outros sem conflito,
Porque num mundo de interesses amar é errado.

E para o mal remediarem, templo dão ao aflito,
De qual bem deles esperais, um triste lamentável fado,
Dá dízimos, dá receitas ao estado, amar é delito.

O amor não tem religião nem é politicado,
Entre mil razões, vive ausente de servidão, mito, 
E assim não pode andar com eles lado-a-lado. 

 autor
António Almeida

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