SAUDADES

Oh! Louca noite minha... 
Tira-me o que tu bem quiseres; 
Tira-me o céu, tira-me a estrelinha, 
Tira-me a luz, tira-me a luazinha, 
Mas as saudades, não me tires. 

Não me tires, noitinha... 
Nestas horas, se bem me queres; 
Como se fosses minha soberana rainha, 
Senhora da minha própria vinha,
Sem minha cede conteres. 

Porque, sei certo, que não convinha, 
O devaneio, que não muda, a saberes; 
Se bem conforta minha pobre alma sozinha, 
Que, de outra forma, nada não, obtinha, 
Recordações, que tirasses sem deveres. 

Tira-me tudo, saudades?... nadinha, 
Para mais louco, loucamente, me veres; 
Porque sem elas, decididamente intervinha, 
Quanto menos sonhado, o fim da linha, 
 Se assim, por mal a mim, o fizeres

autor
António Almeida

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