FACE DO AMOR
Meus olhos, agora,
Não podem rir, oh! Vida.
Porque a minha pobre alma chora,
E meu coração sangra em ferida.
Dum amor demente, que me devora,
Outono, vindima, colheita, entontecida.
Deixando-me um aroma na boca, onde mora,
E me embriaga, de mente perdida.
Numa forte cegueira, que me explora,
Meu corpo, carente, em rua, adormecida.
Duma louca paixão silenciosa, gritando à nora:
Por ti, oh! Chuva, minha querida.
Que não me dizes nada na hora,
Passando audaciosa, pela calada erguida.
Encharcando-me de lágrimas, por mim a fora,
E pedes para me rir? Oh! Vida.
autor
António Almeida