TENHO UM PAPEL BRANCO NA MÃO CALADO


Tenho um papel branco, na mão calado,
Indiferente a tudo, pela noite dentro acordado.
Nada lhe diz de mim, presente ou passado,
É de lhe igual modo, ser riscado.

Ponho-o de frente, sobre a mesa deitado,
Enquanto a ele, o meu olhar, lhe passa ao lado.
Como se fosse o branco mais despreocupado,
Das palavras de alguém falhado.

Mas não pensa, que pode ser só rasurado,
Que me é indiferente deita-lo no lixo amarrotado,
Ou quem sabe no brando lume assassinado.

Se de imaginação estou fortemente afectado,
Pois é o que é o nosso primeiro privilégio dourado,
Que faz do homem dos outros animais distanciado.

autor
António Almeida