NÃO LAMENTES AMOR O TEU ESTADO


Não lamentes, amor, o teu estado; 
Lamentada, andou muita boa gente outrora; 
Lamentando, anda toda a gente a toda a hora; 
Frequentemente, o lamento, está por todo lado: 

Lamenta quem fala, quem está calado; 
Lamenta, o pobre, e o abonado, que bem mora; 
Lamenta, todo o crente, que em devoção sua ora; 
Lamenta, quem só, ao lamento, está abraçado: 

Fadista lamenta, lamenta no fado; 
Poeta, por lamento, em verso, assim namora; 
Lamentam outros mais, até o mais amado: 

Todo mundo lamenta, por aí a fora: 
Até Cristo lamentou, quando estava pregado; 
Não julgues, que és só tu, a única agora.

autor
António Almeida